O tiro bem dado da Arezzo

23 de setembro de 2009

Há uns dias atrás, olhando alguns blogs com minha namorada, me deparei com uma situação um tantinho desconfortável.  Ao visitar um o blog Alice in lesboland, li o texto intitulado “Sapataria Arezzo” que falava sobre o comentadíssimo ensaio das globais Juliana Paes e Cléo Pires. Nada de novo até então, até um certo atraso dada a data de divulgação (julho). Mas o que quero comentar não são as fotografias ou a campanha, e sim o comentário da blogueira. Transcrevo:

“Nós gays sempre reclamamos que somos excluídos da mídia, especialmente no que se refere a programas de TV e anúncios. Agora que se lembraram de nós, acho que merecem um elogio, não? Até porque deve ter um monte de homofóbico-chato-careta metendo o pau, e nós não queremos que a Arezzo ache que teve uma má idéia em colocar aquelas duas gatas se insinuando dentro d’água, queremos? Vai que na próxima campanha ela põe a Cleo se esfregando num Cauã Reymond da vida? Cruzes! Então faça a sua parte, sapa! Manda um e-mail bem fofo para eles aqui, manda! Eu já mandei o meu.”

Juliana Paes e Cléo Pires para Arezzo, inclusão?

Juliana Paes e Cléo Pires para Arezzo. Inclusão? Onde?

Sei que o escopo do blog é totalmente diferente do Homomento e que trata de assuntos mais leves, usando artifícios como o humor e a naturalidade. Infelizmente nenhum desses métodos justifica, para mim, uma visão tão ingênua. O ensaio pode ser bem feito, ter uma estética bacana, bons efeitos, mulheres bonitas, ser pouco apelativo em relação ao que normalmente tange nossa realidade, não importa. A última coisa que se pode imaginar é que em um ensaio como esse ajude, mesmo que minimamente, qualquer lésbica nesse brasil varonil, minha gente!

Um tiro certeiro para não ricochetear

Engana-se a blogueira, leitor, ou consumidor da Arezzo que enxerga essa campanha como um ensaio ‘lésbico’. A boa estratégia de marketing, feita com carinho pelos marketeiros/publicitários/assessores da marca, inteligentemente associa o comportamento das mulheres a uma relação homossexual. Mas na verdade não é isso que acontece, aliás, se a análise das fotos for feita com um pouquinho mais de carinho, é possível observar que se trocada qualquer uma das atrizes por um homem, um se simplesmente excluída da foto, o que temos é mais um ensaio exatamente igual a tantos outros.

A Arezzo opta por contratar para suas campanhas os principais destaques das telenovelas, e nessa eles não fugiram à regra. Talvez o que mais chame atenção seja a concomitância da campanha com a entrevista concedida ao portal A Capa pela Juliana. Um trechinho:

“O que você acha do preconceito contra homossexuais?
Acho uma atitude tão besta e muito pequena. Afinal, o mundo é feito de pessoas diferentes em todos os sentidos. O ser humano tem que saber viver com as diferenças e respeitar o próximo, não só pela sua opção sexual (sic), mas pela raça, condição social, intelectual.

Qual a sua opinião da adoção por casais gays?
Família se constitui por amor e existe amor entre iguais. Para mim, um casal gay tem a mesma condição de criar e educar uma criança que um casal heterossexual.”

Obviamente mora aí um excelente assessor, que habilmente distribuiu o bom e velho release amigo para um dos principais sites LGBT do Brasil, e com certeza tratou de responder com muito carinho e atenção as perguntas enviadas a Juliana. Essa iniciativa inteligente reprimiu qualquer levante homossexual, tendo por base a postura gay-friendly e o suposto ensaio pró-lésbico. Caso encerrado.

Eu não sei qual é a postura real da Juliana Paes, se a Cléo Pires curte gays, se as duas acharam bacana a iniciativa e por isso aceitaram ou se foi porque o pagamento foi satisfatório. Enfim, para mim pouco interessa, porque tudo (e quando eu digo tudo é TUDO) relacionado a campanhas comerciais tem uma estratégia, um objetivo e um interesse. Os LGBT são, enquanto grupo, um nicho a ser exploradíssimo no mercado brasileiro dos próximos anos, então é imprescindível que se filtre os estimulos para não cair em jogadas de marketing bestinhas, como essa.

juju


Destaque da semana: Não Homofobia na TV

23 de agosto de 2009

A veiculação televisiva de propagandas da campanha online Não Homofobia foi anunciada no início do mês, o que não impediu que eu visse o anúncio como uma surpresa boa no meio da minha zapeada básica entre os canais.

O anúncio é muito bom e a agência, que cedeu o vídeo para a campanha, merece os parabéns pela sacada na escolha das palavras. O texto é bem sóbrio, e passa a mensagem de respeito à diferença sem cair em chavões ou apelar para a vitimização dos LGBT.

Inicialmente, são poucos os canais que veiculam o vídeo (apenas MTV e Cultura na TV aberta; e Sony, AXN e Animax na TV por assinatura) e sua audiência não deve, de fato, ser muito grande. Mas num espaço onde homofobia e outros preconceitos são bem mais comuns, é reconfortante ver um discurso que não vê a diferença como piada.