Há uns dias atrás, olhando alguns blogs com minha namorada, me deparei com uma situação um tantinho desconfortável. Ao visitar um o blog Alice in lesboland, li o texto intitulado “Sapataria Arezzo” que falava sobre o comentadíssimo ensaio das globais Juliana Paes e Cléo Pires. Nada de novo até então, até um certo atraso dada a data de divulgação (julho). Mas o que quero comentar não são as fotografias ou a campanha, e sim o comentário da blogueira. Transcrevo:
“Nós gays sempre reclamamos que somos excluídos da mídia, especialmente no que se refere a programas de TV e anúncios. Agora que se lembraram de nós, acho que merecem um elogio, não? Até porque deve ter um monte de homofóbico-chato-careta metendo o pau, e nós não queremos que a Arezzo ache que teve uma má idéia em colocar aquelas duas gatas se insinuando dentro d’água, queremos? Vai que na próxima campanha ela põe a Cleo se esfregando num Cauã Reymond da vida? Cruzes! Então faça a sua parte, sapa! Manda um e-mail bem fofo para eles aqui, manda! Eu já mandei o meu.”
Sei que o escopo do blog é totalmente diferente do Homomento e que trata de assuntos mais leves, usando artifícios como o humor e a naturalidade. Infelizmente nenhum desses métodos justifica, para mim, uma visão tão ingênua. O ensaio pode ser bem feito, ter uma estética bacana, bons efeitos, mulheres bonitas, ser pouco apelativo em relação ao que normalmente tange nossa realidade, não importa. A última coisa que se pode imaginar é que em um ensaio como esse ajude, mesmo que minimamente, qualquer lésbica nesse brasil varonil, minha gente!
Um tiro certeiro para não ricochetear
Engana-se a blogueira, leitor, ou consumidor da Arezzo que enxerga essa campanha como um ensaio ‘lésbico’. A boa estratégia de marketing, feita com carinho pelos marketeiros/publicitários/assessores da marca, inteligentemente associa o comportamento das mulheres a uma relação homossexual. Mas na verdade não é isso que acontece, aliás, se a análise das fotos for feita com um pouquinho mais de carinho, é possível observar que se trocada qualquer uma das atrizes por um homem, um se simplesmente excluída da foto, o que temos é mais um ensaio exatamente igual a tantos outros.
A Arezzo opta por contratar para suas campanhas os principais destaques das telenovelas, e nessa eles não fugiram à regra. Talvez o que mais chame atenção seja a concomitância da campanha com a entrevista concedida ao portal A Capa pela Juliana. Um trechinho:
“O que você acha do preconceito contra homossexuais?
Acho uma atitude tão besta e muito pequena. Afinal, o mundo é feito de pessoas diferentes em todos os sentidos. O ser humano tem que saber viver com as diferenças e respeitar o próximo, não só pela sua opção sexual (sic), mas pela raça, condição social, intelectual.Qual a sua opinião da adoção por casais gays?
Família se constitui por amor e existe amor entre iguais. Para mim, um casal gay tem a mesma condição de criar e educar uma criança que um casal heterossexual.”
Obviamente mora aí um excelente assessor, que habilmente distribuiu o bom e velho release amigo para um dos principais sites LGBT do Brasil, e com certeza tratou de responder com muito carinho e atenção as perguntas enviadas a Juliana. Essa iniciativa inteligente reprimiu qualquer levante homossexual, tendo por base a postura gay-friendly e o suposto ensaio pró-lésbico. Caso encerrado.
Eu não sei qual é a postura real da Juliana Paes, se a Cléo Pires curte gays, se as duas acharam bacana a iniciativa e por isso aceitaram ou se foi porque o pagamento foi satisfatório. Enfim, para mim pouco interessa, porque tudo (e quando eu digo tudo é TUDO) relacionado a campanhas comerciais tem uma estratégia, um objetivo e um interesse. Os LGBT são, enquanto grupo, um nicho a ser exploradíssimo no mercado brasileiro dos próximos anos, então é imprescindível que se filtre os estimulos para não cair em jogadas de marketing bestinhas, como essa.